Walter é um jogador folclórico. Todo time
precisa de um jogador folclórico. O jogador folclórico é capaz de tudo e ao
mesmo tempo de nada. Na maioria das vezes ele é um perna-de-pau, perde gols
incríveis, fica jogos e mais jogos sem marcar, recebe vaias, vira motivo de
piada, ganha matérias negativas nos jornais e é constantemente criticado por
comentaristas e especialistas. Só que quando menos se espera, ele vai lá e faz
um gol, faz dois, faz vários, vira ídolo, ganha manchetes, ganha música, vai
nos programas esportivos, pede vaga na seleção e é cogitado em um grande time
da Europa. De folclórico ele passa a ser craque. E ai tudo vai por água abaixo.
A cabeçada bate na trave, o pênalti vai pra fora, o passe sai errado e a bola
fica um, dois, três jogos sem balançar as redes. Então ele volta a ser
folclórico. Volta vaia, piada, crítica, xingamento. A Europa vira Oriente
Médio, China, Japão ou outro centro futebolístico emergente. Claro que tudo
depende de um bom empresário. O que mais tem hoje em dia é jogador folclórico
em time pequeno.
Porém ele vai além. É folclórico e craque.
Tinha tudo para se transformar em um grande jogador e deixar de ser visto
apenas como um personagem folclórico. O problema é o peso. Empurrar com a
barriga a carreira não é fácil. Ele conseguiu até agora, mas foi só chegar em
um time grande que as coisas complicaram.
No Domingo tem Fla-Flu. Domingo de Páscoa. Dia
de comer chocolate. Grandes são as chances de uma das torcidas sair do Maracanã
vibrando aos gritos de “Uh, é chocolate”. Eu tinha certeza que seria a torcida
do Fluminense. Só que não vai ter Walter.
Todo Fla-Flu tem um herói. Walter era o herói
que este domingo de Páscoa merecia. O gordinho sendo o artilheiro no dia
mundial de devorar chocolate. Pela primeira vez poderia comer bolachas à
vontade, sem culpa. Toda a má fase seria página virada. Walter entraria no
segundo tempo, faria um ou dois gols, mais um passe para um eventual terceiro e
a goleada estaria completa. Festa e chocolate. Assunto no Fantástico, matéria
em todos os jornais de segunda, capa do Meia-Hora A ressurreição da carreira do
artilheiro!
O Flamengo tem uma vasta lista de artilheiros
folclóricos. Isso faz bem pro futebol. Ele te irrita e depois vai lá e garante
uma vitória importante. Uma relação de amor e ódio. Sinto falta de um jogador
assim. Renato Gaúcho, Super Ézio e Magno Alves. Walter poderia estar nesta
lista. Poderia estar na lista dos grandes ídolos.
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