Final dos anos 90. Era bem complicado torcer
pro Fluminense. Mesmo assim eu sempre estava lá em Laranjeiras. Um dia
inventaram um amistoso. Fluminense x Grêmio. Taça Amizade Tricolor. Claro que
eu fui lá. O motivo, confesso, não foi o Fluminense. Fui pra ver um moleque que
tava surgindo no futebol. Ronaldinho Gaúcho! Muito antes de ser R10, melhor do
mundo e ter esse cabelão todo.
Estava entusiasmado. Era a chance de ver de
perto um jogador que vinha mostrando ter um talento fora de série. A chance de
ver de perto o início da carreira de um craque. Os mais velhos diziam que viram
Garrincha, Maradona, Pelé e tantos outros jogarem. Eu poderia dizer no futuro
que vi o Ronaldinho jogar. E vi de bem perto. E eu também queria um autógrafo.
Um autógrafo importante pra incrementar a minha agenda.
Cheguei cedo, cedo demais. Ansioso, nervoso e
cheio de expectativas sobre como seria o encontro com o meu novo ídolo. A
antecedência proporcionou um excelente lugar no alambrado. Esperei, esperei e
esperei pelo encontro. Na minha fantasia ele iria aparecer, falar comigo,
assinar a minha agenda e talvez alguém poderia tirar uma foto para incrementar
as lembranças. Cheguei muito cedo mesmo. Com o passar do tempo muitos foram
aparecendo. Estavam ali com a mesma ideia. Canetas, agendas, camisas por todos
os lados. A fase era terrível mesmo para o Fluminense. Carência de ídolos, de
bons momentos, de tudo. Seria legal ter um jogador assim no time. Um cara que gera
expectativa, empolgação. Alguém que receba a bola e possa fazer algo diferente.
Senti um pouco de inveja da meia-dúzia de torcedores do Grêmio que estavam do
outro lado da arquibancada. O Ronaldinho bem que podia ser carioca.
E então ele surge no gramado. Com a roupa de
treino, carregando uma mochila quase do seu tamanho, surge um moleque franzino
e sorridente. Parecia que tinha muito mais do que 32 dentes. Todos ficaram
eufóricos. Um bando de crianças gritando para chamar a atenção do ídolo. Eu
gritei bastante. Acho que foi o meu único momento de fanzoca na vida. Tudo em
vão.
Ronaldinho ignorou todo mundo. Fingiu que não
era com ele e foi embora, rindo.
Muitos ali ficaram tão decepcionados quanto
eu, mas resolveram continuar tentando até ele entrar no vestiário. Foi um longo
caminho. Eu fiquei onde estava. Teve gente que disse que ele era tímido, que
estava concentrado no jogo e tudo mais. Nenhuma justificativa funcionou comigo.
Fiquei decepcionado, frustrado. Pelo menos o Fluminense venceu o jogo. Um empolgante
4x3. E depois ficou com a taça.
O tempo passou, Ronaldinho virou o craque que
todos conhecem e quando eu ficar velho irei poder dizer que vi Ronaldinho
jogar. Vi ele conquistar uma Copa do Mundo, fazer gols incríveis e realizar
jogadas absurdas.
O melhor de tudo é que vou poder dizer que vi
Ronaldinho Gaúcho jogar pelo Fluminense. E dai que ele tá em fim de carreira,
35 anos e com uma movimentação pra lá de limitada. Quando ele pega na bola eu
fico empolgado. Qualquer coisa pode acontecer. Existe sempre a chance de um
passe fantástico, um drible, uma jogada que pode se transformar em gol.
Por causa de uma coincidência do destino, eu
e Ronaldinho nos reencontramos em um Fluminense x Grêmio. Talvez eu estivesse
tão empolgado quanto. Não cheguei cedo, muito menos estava com vontade de pedir
autógrafos. Hoje tem muito mais crianças com esta missão. E que bom que elas
vão ter um final diferente.
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